O Colecionador

 Algumas pessoas colecionam selos. Outros colecionam amores. Tem quem colecione besouros, souvenirs, discos de vinil que nunca são tocados, crimes, boas ações.


Amázio colecionava milhas. Não estou falando de milhagens dos programas de fidelidade das companhias aéreas. Ele literalmente media as distâncias dos caminhos e estradas pelas quais passava e, de cada via, reservava uma milha para seu catalogo pessoal.


Alguns anos perseguindo milhas, e Amázio ja podia ostentar um belo conjunto em seu compulsivo legado. Andou nos mais longinquos confins, na sinuosa Cote D´ Azur, na velocíssima Autobahn, nos belissimos Pireneus.


Amázio nunca conheceu um museu em Paris, ou esteve nos castelos antigos na Europa. O caminho era a sua finalidade. Concluido o percurso, partia para a próxima. Ou voltava para casa. Tambem evitava voltar pelo mesmo caminho, não gostava de itens repetidos na sua coleção.


Certa vez, enquanto Amázio concluía um belo recorte da rota 66, deu-se conta que sua coleção havia se completado. Ele ficou deseperado e, em vez de contentar-se em admirar seu legado, passou a perseguir avidamente caminhos desconhecidos.


Sua obsessão o levou às ultimas consequencias, levando-o a esgotar sua riqueza, sua vontade, seu sentido de existencia.


Foi então que, sentado no meio de uma encruzilhada em um deserto qualquer, Amazio encontrou uma velha pá.


Amázio recobrou suas forças, reacendeu sua chama, e enxergou além da estrada.


Com aquela velha pá, Amázio passou a abrir estradas, e construiu, milha por milha, um novo capitulo em sua coleção. Ele passou a ligar suas antigas reliquias através de novas trilhas, pontes, tuneis, e sua preciosa coleção tornou-se infinita.

Postagens mais visitadas