Perseverança e teimosia

É fácil confundir perseverança e teimosia. Nas duas situações, há alguém que persiste em um objetivo, alguém que aposta tudo. Mas, na realidade, são qualidades antagônicas. 

A perseverança é fruto da convicção e a teimosia é fruto da arrogância. O perseverar nasce da firmeza de propósito e a teimosia nasce do não admitir a própria falibilidade. 

Para se reconhecer como perseverante ou como teimoso, a única forma é observar o seu interior de forma honesta e identificar os seus motivos mais profundos para insistir em um caminho. Estou insistindo em algo por que não quero reconhecer que cometi um erro? Ou por que mudar de rumo é demasiado trabalhoso? Por que já coloquei muita coisa em jogo? Por que minha aposta foi alta demais?

Ou estou persistindo em um objetivo por que tenho clareza sobre o que é a minha verdade? Ou por que tenho evidências irrefutáveis? Ou por que é o certo a fazer, de acordo com meus valores pessoais?

Perseverança é uma qualidade que só tem quem possui convicções. Perseverar é se manter no caminho quando você não enxerga a luz do fim do túnel, mas você sabe que ela está lá. Perseverança, ao contrário da teimosia, requer um fundamento forte, um argumento irrefutável, uma certeza inabalável. O perseverante não se envergonha de mudar de direção quando sua própria percepção da verdade se altera de maneira fundamental. O perseverante se adapta, corrige o curso, faz escolhas e governa o próprio destino. O propósito do perseverante é a sua verdade. 

Para ser teimoso, a fé em uma verdade inabalável não é um pré-requisito. O querer estar certo, ou mais ainda, o querer não estar errado, pode ser uma razão suficiente para um teimoso prosseguir. A verdade se molda à vontade do teimoso. Não é necessário argumentos e qualquer coisa que ameace suas certezas deve ser combatido e sufocado. O teimoso é inflexível por essência, não admite erros, não corrige o seu caminho e é escravo das suas escolhas. O propósito do teimoso é o seu orgulho. 

Para o perseverante, o caráter aleatório da vida (o que chamamos de sorte) lhe favorece, pois ele aprende com o caminho. O perseverante cresce com a adversidade, pois busca a verdade. Para o teimoso, a aleatoriedade o ameaça e ele tenta controlar todo o processo. 

É possível a um teimoso ser bem sucedido? Sim, é claro, pois a sorte pode favorecer até mesmo quem a evita. Até mesmo um relógio quebrado pode indicar a hora certa, pelo menos duas vezes por dia. Mas, certamente, você vai encontrar muito mais perseverantes do que teimosos na linha de chegada.

É possível a um perseverante não ser bem sucedido? A resposta também é sim. A mesma aleatoriedade que pode levar um teimoso, por vias tortas, a seu destino, também pode desviar o rumo de alguém que trilha um propósito verdadeiro. 

Mas a grande diferença entre um teimoso e um perseverante é que não chegar ao objetivo definido não é sinônimo de derrota para o perseverante. Este sempre, em algum sentido, será vitorioso, pois cresceu com a experiência do caminho, aprendeu com seus erros e alcançou o seu melhor. Diante de um novo desafio, ele será muito mais favorecido pela sorte do que o seu antagonista, o teimoso. 

Um teimoso que acertou, pelo menos uma vez, diante de um novo desafio, está muito mais suscetível o fracasso, pois não aproveitou as oportunidades que o caminhou lhe apresentou, não aprendeu com os erros e não cresceu com a adversidade. 

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