Circo
Matar em nome de Deus? Tudo bem.
Questionar suas ordens? Apedrejem-no!
Assassinar uma mulher por adultério?
Chamam de justiça divina.
Espancar um escravo?
Sem problema — só não o mate, tá? Ele tem que trabalhar amanhã.
Ordem do céu.
Ensinar uma criança sobre o genocídio do dilúvio?
Faça um teatrinho com bichinhos de pelúcia.
As melhores histórias de extermínio são contadas com cores vivas e cantigas.
“Ensina o caminho ao teu filho... mesmo que o caminho passe por milhões de cadáveres.”
Uma cobra falante te oferece conhecimento?
É o diabo!
O crime imperdoável é querer entender.
A verdadeira virtude é obedecer.
E Jó?
Deus faz uma aposta com o diabo — destrói a vida do homem só pra provar que ele é trouxa o suficiente pra continuar rezando.
No fim, recebe tudo de volta — exceto os filhos mortos, claro.
Mas o importante é a lição: obedeça, mesmo quando a dor for absurda.
Mesmo quando o teu Deus te usar como peão em seu joguinho cósmico de vaidade.
Chamam isso de amor.
Chamam isso de fé.
Eu chamo isso de loucura coletiva.
Chamo isso de abuso institucionalizado.
Chamo isso de moral degenerada, vestida de sagrado.
E chega.
A piada perdeu a graça.
E quem ainda ri está ajudando a sustentar o circo da miséria moral.