Parabéns
Aniversário é uma dessas fantasias sociais que fingem celebrar a vida enquanto nos lembram da morte. Medimos translações arbitrárias, como se o tempo e o espaço precisassem de nossa aprovação para seguir adiante. Cada parabéns é uma confissão de finitude.
Os anos se acumulam, os presentes se dissolvem em mensagens automáticas do site do seu banco; os abraços viram lembranças remotas, sugeridas por notificações pré-configuradas da sua rede social.
Quarenta? Quem se importa.
Quarenta e um? Que curioso.
Quarenta e dois. Quarenta e três. Quarenta e quatro... mas quem está contando?
Números são contingentes. O universo não se importa com nossas contagens.
O tempo não sopra velas: apenas as deixa derreter até que o pavio acabe. E perdura, mesmo quando nada restar de nós. E a luz se apaga como se nunca tivesse sido acesa.
Uma, duas, três gerações... e o que resta é o registro frio de um cartório qualquer.
Depois, nem isso. Vestígios contingentes.
A burocracia é a última a contar nossa história.
Páginas empoeiradas de um velho livro de registro civil — última barreira entre você e o esquecimento eterno: data e hora da morte.