A arte de compreender

Compreensão é um ato que exige grande força de vontade. Não é um ofício para aqueles com egos exacerbados, tampouco para os que se encontram repletos de certezas. As certezas funcionam como muros fortificados que nos separam do outro; fazem de nós algo menor, porque circunscrevem os limites do possível saber. É preciso reduzir o edema de um ego inflamado, conter a vaidade, suspender as certezas antes de iniciar a jornada da compreensão. Compreende melhor quem reconhece a própria incompletude e a aceita.

Compreender é também uma jornada de conhecimento. O conhecimento constrói pontes que permitem alcançar e tocar aqueles que desejam ser compreendidos. É necessário enxergar o mundo com as lentes do outro e situar nossa perspectiva sobre o relevo das experiências e da história do que buscamos compreender. E, para isso, é indispensável ouvir e aprender com aqueles que discordam de nós. É preciso reconhecer que existem diferentes lugares de fala — lugares bons e maus, felizes e tristes, povoados e solitários. Reconhecer os contrastes e contradições do existir é um passo decisivo no processo de compreensão.

Por fim, é imprescindível aprender a escutar. Muitas vezes ouvimos ansiosos por responder. O ato de ouvir não é um mero intervalo antes do nosso próprio discurso; para que haja escuta compreensiva, é preciso calar a voz e a mente, estar presente. Não se pode escutar sob o ruído das próprias murmurações; escutar exige disposição para permitir que o outro erija um edifício com estrutura e fundamento. Poucos se dispõem a essa tarefa, e ela talvez seja a mais difícil de todas.

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