Sobre a raridade do amor
Coisinha fugidia é o amor. Tão facilmente é deixado de lado por nossos ímpetos egoístas, tão rapidamente cede terreno ao nosso senso de mérito. É o primeiro a dar um passo para o lado para deixar que nossos caprichos e vontades tomem o leme. Mas nada disso acontece sem um gosto amargo de arrependimento. O amor vende seu espaço a um preço alto: é o preço de uma alma.
As recompensas do amor são o fruto da vida, mas sua negação abre janelas para o vale mais sombrio de nossa jornada. É uma companhia fundamental para navegar em uma existência em um mundo de absurdos, mas ele não embarca sem ser convidado, e às vezes precisamos insistir no convite.
Pode-se viver pelo amor. Pode-se ainda lutar por amor. E pode-se morrer pelo amor. Mas o amor não se impõe sobre a nossa vontade; deve-se, antes, permitir que ele esteja. Sem nossa permissão voluntária, o amor é impotente. Ele só pode agir por meio de nossas escolhas e enfrenta um inimigo muito mais insidioso: o nosso próprio egoísmo, que é birrento, despótico e chantagista.
O amor precisa ser ensinado e cultivado desde a mais tenra infância para que tenha alguma chance de alcançar sua grandeza. E nunca perderá a gentileza, nunca se imporá sobre a vontade e nunca suplantará o nosso arbítrio.